Foto: Pedro Piegas (Diário)
Há mais de 40 dias, professores e pais vêm buscando alternativas para, de um lado, manter as escolas abertas e, de outro, encontrar formas de garantir um espaço seguro para as crianças. As atividades presenciais em todos os níveis de ensino estão suspensas desde 1º de março por conta de uma liminar. Os impactos da pandemia são sentidos no cancelamento de matrículas, nas demissões e no fechamento de escolas.
Segundo uma das delegadas do Sindicreches/RS em Santa Maria, Stefanie Santos, de março de 2020 até o momento, pelo menos 12 escolas de Educação Infantil da cidade encerraram as atividades. E, somando os casos nas 41 instituições autorizadas pelo Conselho Municipal de Educação, foram 236 demissões, entre professores, auxiliares, monitores, serviços gerais e cozinheiros.
– Os impactos são inúmeros, pois, com a liminar, as escolas tiveram que retornar ao ensino remoto. Já estávamos trabalhando presencialmente, há quatro meses, e os desafios administrativos e financeiros se tornaram inevitáveis com a suspensão – explica, lembrando que, em setembro do ano passado, decretos do Estado e do município permitiam o retorno das atividades presenciais.
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Na sexta-feira, o Sindicreches/RS emitiu uma nota de repúdio ao novo decreto do governo do Estado, que flexibiliza diversas atividades e serviços, mesmo sem serem considerados essenciais. Stefanie lembra que, em quatro meses trabalhando presencialmente, nenhum surto foi registrado nas escolas da cidade.
SEM OPÇÕES
Uma preocupação da também delegada Luciana Coelho é a existência de relatos de crianças que ficam com pessoas do grupo de risco, em lugares sem protocolos sanitários e regulamentação.
– As famílias estão desesperadas. Algumas precisaram levar seus filhos para ficar na casa de parentes. Mas preocupa, ainda mais, saber que as crianças também estão ficando em locais informais, sem regulamentação, para que os pais possam trabalhar – destaca.
ESTADO
Segundo dados do Sindicreche/RS, que representa cerca de 3 mil estabelecimentos, mais de 150 escolas já fecharam as portas no Estado. Ainda ontem, o governador Eduardo Leite (PSDB) reforçou, por meio do Twitter, que o governo entrou com pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para que sejam liberadas as aulas presenciais. Não há previsão de quando o pedido será analisado.
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Instituições buscam alternativas para pagar as contas
A creche Criança Sapeca, localizada na Cohab Santa Marta, Bairro Juscelino Kubitschek, atendia 46 crianças em março de 2020, quando começou a pandemia. Agora, apenas seis estão matriculadas para as atividades que ocorrem de forma remota. Como muitos pais precisam sair para trabalhar e não têm a possibilidade de deixar os filhos na creche, acabaram por cancelar a matrícula e contratar alguém para ficar em casa com as crianças.
A proprietária Magnólia Freeze, 54 anos, sentencia:
– Não tem como pagar as contas. Estou endividada, assim como muitas outras pessoas. E vou levar uns bons anos para voltar a uma situação confortável. Por mais que o prédio da escola seja meu, há funcionários que recebem salários e a manutenção da estrutura. Fiz empréstimos. Até realizamos rifas e risotos, mas isso ajuda só em um mês ou dois.
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A creche conta com quatro funcionárias que são pedagogas, que elaboram atividades para as crianças fazerem em casa. Uma cozinheira e uma profissional de serviços gerais eram contratadas, mas as duas foram demitidas no período de portas fechadas.
Stefanie Santos, da Escola Papo de Anjo, destaca que as atividades remotas também dependem da disponibilidade da família em querer participar.
– As escolas entregam materiais semanais para as famílias, encaminham vídeos produzidos pelas professoras e reforçam o vínculo por meio de videochamada. Mas a motivação e o empenho são bem diferentes do ano passado, pois as crianças estão cansadas deste formato.
Outra questão é que não existe ensino remoto com bebês e crianças bem pequenas, que se desenvolvem pela socialização e vivências na escola – finaliza.
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Perspectivas*
Com a suspensão das atividades, as escolas de Educação Infantil vêm sofrendo com o cancelamento de matrículas, principalmente no nível creche (0 a 3 anos), que não é obrigatório; e o aumento dos pedidos de transferência para a rede pública, no nível pré-escola (obrigatório)
Se as atividades presenciais se mantiverem suspensas, a perspectiva, conforme o Sindicreches/RS, é de fechamento de mais empresas do ramo da Educação Infantil privada, ocasionando demissões em massa de todos os setores e afetando prestadores de serviços diretos e indiretos
O sindicato aguarda a divulgação do plano de vacinação dos profissionais da educação em Santa Maria, tendo em vista que já foi aprovada a Lei 6.531, que prioriza a vacinação dos trabalhadores da área da educação
Possibilidade de novos pedidos de falência, a partir dos investimentos que foram feitos pelos proprietários das escolas para o retorno das atividades presenciais, em setembro, e da redução e até corte da receita desde o início da pandemia
*Dados fornecidos pelo Sindicato Intermunicipal dos Estabelecimentos de Educação Infantil do Estado do Rio Grande do Sul (Sindicreches)